quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Sobre o monólogo "O Contrabaixo", de Patrick Süskind



Aqui vai um texto, postado no blog http://desabafosagridoces.blogs.sapo.pt, por Sara, no dia 17 de setembro de 2010.
Nele, o assunto é o livro "O Contrabaixo", de Patrick Süskind.
Este livro é leitura recomendada a todos, e mais que recomendada a todos os contrabaixistas...

O grande ator paulista Antonio Abujamra encenou o monólogo em São Paulo e no Rio de Janeiro, e isso lhe rendeu o prêmio de melhor ator, em 1987. (fonte: http://www.tvcultura.com.br)
Essa peça teve a direção de Clarisse Abujamra, sua sobrinha.

Como uma contrabaixista normal, viciada em assuntos contrabaixísticos, li o livro, assisti a peça três vezes com ele, e adorei!

Aqui vai o texto da Sara:

"Patrick Süskind é conhecido pelo seu livro “Perfume – A História de um Assassino” posteriormente adaptado ao cinema. Tal foi o sucesso (foram vendidos 15 milhões de exemplares em quarenta línguas) que acabou por abafar outras obras, entre as quais O Contrabaixo, escrito em 1981. Foi por isso com alguma curiosidade que o li. E gostei muito.

O protagonista é um contrabaixista da orquestra nacional de Viena que nos vai falando da sua vida: da relação amor- ódio que tem com o contrabaixo (“parece uma velha gorda. As ancas muito descaídas, a cintura perfeitamente fora do sítio, moldada muito acima e muito estreita (…) ombros estreitos, raquíticos e pendentes…um desgosto!”); do seu lugar na orquestra, que é essencial mas passa sempre despercebido, das invejas e do seu amor secreto por uma meio-soprano.  

Süskind tem uma característica que consiste em centrar-se na mente da personagem, escavando o seu interior e mostrando-nos os seus meandros tortuosos: as suas psicoses, as suas contradições…esta construção interior, dispensa o exterior. Em Perfume, tal característica é visível na parte em que Grenouille se esconde na caverna e durante sete anos vive unicamente “no reino da sua alma”. Em O Contrabaixo passa-se o mesmo:  o autor centra-se exclusivamente na personagem da qual não sabemos o nome, apenas que tem 35 anos, e que se encontra no seu quarto à prova de som.

As informações sobre o exterior são dadas pelas didascálias que precedem os momentos de monólogo. São de grande importância pois conferirem ritmo ao texto. A peça inicia-se com a segunda sinfonia de Brahms e termina com o 1º andamento do quinteto das trutas de Schubert (piano, violino, viola, cello e contrabaixo). Aqui é a audição quem tem o lugar de honra. Até porque ao desfiar as suas amargas memórias o contrabaixista levamos também a conhecer a História do seu instrumento e da música clássica em geral (fruto da própria experiência do autor). Sendo uma leiga na matéria, achei fascinante. É curioso saber, por exemplo, que os maestros só apareceram no seculo XIX e que Mozart partia pianos (já desconfiava…). Há também uma ponta de crítica aqui e ali aos compositores e à própria sociedade.   

Um livro divertidamente ácido!"

Aqui vai um vídeo de uma entrevista do Antonio Abujamra para o programa Metrópolis, da TV Cultura, em que ele fala da sua trajetória como ator e diretor, da peça "O Contrabaixo" e do programa "Provocações":





2 comentários:

Anônimo disse...

O livro é bom sim, querida! Sabe que outro dia fui tentar comprar aqui em São Paulo e me informaram que está esgotada a edição (tenho um exemplar em alemão). Mas na encenação feita aqui no Brasil pelo fabuloso Antonio Abujamra, eu particularmente não gostei da tradução que fizeram para o português - achei um pouco "apelativo" por conta dos muitos "palavrões" em cena - no texto original não tem nem a palavra "M..."
Assisti a peça em Viena, na década de 80 com o 1. ator - Nikolaus Parilla - ele inclusive chegou a aprender o Concerto de Dittersdorf (alguns trechos) para poder executar em cena - fabuloso! O drama é bárbaro mesmo! Uma "tragicomédia", pois tem cenas engraçadas tbm, é claro...como na vida, né? Gosto muito do trecho que ele diz que "se R. Wagner tivesse ido ao analista, metade da sua obra nos teria sido poupada", por conta de alguns trechos impossíveis de serem executados no nosso instrumento...Quero ressaltar que AMO a música de Wagner...agora que tem alguns trechos pro cbx que, sinceramente...Mas vale pela dica do "contrabaixo também é cultura", né?
Parabéns mais uma vez, querida! Bj tchau

Voila Marques disse...

Como contrabaixista, adoro esse livro, primeiro por falar do contrabaixo e da relação, por vezes ambígua, entre o contrabaixista e o contrabaixo. E depois, por ser bem escrito, e mais ainda por ter tido uma adaptação teatral de sucesso no Brasil com o grande Abujamra!
Vi pela internet que já aconteceram também outras encenações dessa peça no Brasil e em Portugal.

Sabe, vou fazer uma confissão: nas vezes em que a assisti com Abujamra, fiquei muito boba na platéia... Eu pensava:
“Nossa, esse povo todo veio aqui para ouvir uma peça sobre o contrabaixo!”;
“Tá todo mundo gostando!”;
“Aplaudiram de pé!”

Tenho esse ataque de “bobeira” toda vez que vejo o público leigo se surpreender com o contrabaixo. Outra vez em que isso aconteceu, e que foi bem marcante para mim, foram nas apresentações da L'Orchestre de Contrebasses aqui no Rio. Sensacionais!

Valéria querida, acho um luxo poder ler livros no idioma original! Assim que você conseguir ler “O Contrabaixo” em Português, gostaria que dissesse também o que achou da tradução, ok?

Como a minha memória não é assim uma Brastemp, e também como não há gravação completa da peça, acho difícil comparar o livro em Português com a adaptação teatral, porque já tem muitos anos que a peça foi encenada aqui no Rio...

Realmente, eu não me lembro desse detalhe dos palavrões, até porque aqui no Rio os palavrões em peças teatrais às vezes ultrapassam o limite do bom-senso, e o público daqui está mais acostumado a eles, diferentemente do público paulista.

Acho muito interessante essa diferença de público e de cultura no imenso Brasil, ainda mais quando essa diferença é entre cidades tão próximas como o Rio e São Paulo.

Assim que conseguir achar o meu livro, que está desaparecido, vou relê-lo mais uma vez (adoro isso!), pensando no que você escreveu.

“O Contrabaixo” já há alguns anos está difícil de achar para comprar mas, com alguma insistência e muita sorte, ainda se acha alguns exemplares à venda, na maioria das vezes usado.

Achei incrível o que você escreveu sobre o Ator Nikolaus Parilla! Aprender uns trechos do Dittersdorf para tocar em cena é realmente demais!

A frase sobre o R.Wagner é ótima, e poderia também ser estendida ao xará dele, Strauss, hahaha!

Obrigada pela sua sempre presente participação e pelo apoio, querida!

Beijocas contrabaixísticas da Voila

Postar um comentário

Antes de comentar, leia com atenção!

- Os comentários do blog são moderados.
- Comentários com ofensas, palavras ofensivas e sem relação com o artigo não serão publicados.
- Comentários sem nome e e-mail válido (ou seja, anônimos) poderão não ser publicados.
- Os comentários não refletem a opinião do autor do artigo.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...